3 de dezembro de 2011
Resultado - 166ª semana
A moça por Z ! em "I'm underground"
Quando ela chegou, eu devia ter uns onze anos e Carol uns nove. Ficamos acanhadas de início, mas queríamos mostrar-lhe toda a casa e onde ficava cada coisa. Era uma moça simples da zona rural de uma cidade próxima, foi o que ficamos sabendo. Negra, de baixa estatura, não devia ter mais que vinte anos. Bonita a danada. Gente fina nas primeiras observações. Sorria com tamanha facilidade; com qualquer coisa mesmo. Era toda bobinha, engraçada ela. Acho que nunca tinha visto um computador, apesar de saber que existia. Certa vez, numa das nossas viagens, ela experimentou o elevador. Ficou nervosa, tonta, cheia de piriri. Não queria saber de elevador, só de escada. Ah sim, e a escada rolante? Ficou apaixonada. E depois ela se acostumou com o elevador também, não queria mais escada. Uma moça boa, trabalhadeira, confiável – minha mãe dizia. E era mesmo, não se cansava não, mas reclamava mais que minha avó nos dias de bagunça.
Chamava-se Elizabete. Elizabete de Jesus. E, ao contrário do que eu pensava, tinha mais de vinte anos, mas não aparentava não. Virou uma pessoa da família de tanto tempo que passou com a gente. Na cozinha não era lá essas coisas toda, mas, vez ou outra, inventava umas “artes” que saiam bem gostosas. Foi ficando moderna, vivia inventando modelos de roupa e me pedia pra dar uma olhada em uns na internet. Tinha um sonho: seria costureira.
Um dia eu estava pela rua e vi num poste um cartaz anunciando um curso de costura. Anotei o número e passei pra ela. Animou-se toda. Foi lá, se inscreveu, começou. De início eu não colocava muita fé não porque era desastrada a doidinha. Mas em menos de um mês já estava “craque”, cheia de planos e fazendo uma roupa atrás da outra com um capricho pros deuses. Determinada, arteira, cheia de aspirações; por isso meu pai e minha mãe fizeram uma vaquinha e compraram-lhe uma máquina. Aí pronto, começou a se achar a estilista. Costurava pra todo mundo aqui em casa e pra as amigas. Um sucesso. Depois de um tempinho começou com um papo de que ia trabalhar em fábrica. E lá foi ela, mudar de vida.
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2 de dezembro de 2011
Resultado - 165ª semana
Animal sem estimação por Vagner de Alencar em "Vida em Crônicas"
Família gigantesca sempre deu nisso: números exorbitantes. Eis então a contabilidade: uma bisavó de 90 e tantos anos, uma centena de primos, duas dezenas de tios e tias, quatro irmãos... Não bastante a procriação em demasia, também não poderia faltar no balaio as outras criações: os bichos.
Quem desembarcar lá no inóspito povoado Cavada II, há 40 km de Vitória da Conquista (BA), onde morei boa parte de minha infância, vai se deparar com uma infinidade de animais per casa. Isso mesmo. Desconheço uma casa que não tenha ao menos um cachorro. Os nomes dos cães são os mais comuns possíveis. É Rex, Baleia, Bingo, Bolinha, Pipoca...
E os bichanos vão desde os mais dóceis - de estimação -, àqueles especialmente adestrados para a caça. Que diga meu tio José Carlos, vulgo Zé Babão. Acompanhado de seus quatro cachorros, ao menos duas vezes, saía pro mato para caçar tatu, luís-cacheiro e qualquer outro animal que lhes sirveria de comida. Na cangalha do caçador de primeira já vi de tudo quanto é bicho: tamanduá-bandeira, cachorro-do-mato, tatu-bola, até gambá.
Na casa de Sinvaldo, marido de minha tia paterna, não faltam aves. Lá é uma cantoria danada, embora não seja nada prazeroso ver os pássaros privados de liberdade.
Em dona Delita, irmã de minha vó Alice, a atração do recanto é o papagaio, que aprendera até a falar os nomes dos netos. Início deste ano, quando visitei sua casa, quem disse que o falso falador pronunciou algum substantivo. Nadinha. Mas ao menos ele se atracou no meu ombro, depois de mordiscar levemente meu dedo indicador enquanto acariciava seu cocuruto.
Enquanto isso, na minha casa passaram vários tipos de bichos. Os cachorros (Bingo, Pipoca e outro que, me perdoe, não me recordo o nome), gatos (Suzy e Suzana) e periquitos sem alcunha. Porém a criação da bicharada não parou por aí: vieram as galinhas e os porcos, quando não surgiram cobras e taturanos. Certa vez apanhei uma gigantesca, que havia visto só em filmes. Coisas de quem mora na zona ruralíssima.
E destilando toda a minha ironia nessa oração: como eu os adorava. Toda semana eu era incumbido da ingrata missão de comprar ração aos quatro porcos que residiam a chiqueiro especial arquitetado para eles. A lavagem recolhida dos restos do almoço e janta também iam parar lá na “casa” deles. Dois sacos de farelo de milho eram suficientes para alimentar os suínos por uma quinzena.
Além dos bichos, que não tinham estimação nenhuma, era a vez das aves. E quem dera fosse algum periquito escalando sua mão, correndo até a altura do ombro. Eram as galinhas, montes delas. Deixar a porta da cozinha aberta era a certeza de que elas invadiriam o recinto à procura do que comer.
Muitas foram as vezes que elas derrubaram as panelas, quebraram copos, pratos, encheram de cocô o piso. Nessa época, eu nunca usei tanto o verbo tanger. “Vai lá tanger as galinhas, menino!”, bradava minha mãe.
E quando era a hora de alimentá-las! Numa vasilha feita por meio da lata de óleo de soja vazia ia eu, quando não um dos meus quatro irmãos, distribuir milhos às aves detestáveis.
“Bruuuum, tititi, bruuuum, tititi!!!” E depois de proferir o som de invocação dos galos, galinhas, pintos e sei mais que tipo de ave galinácea, dezenas delas surgiram de todos os cantos, catando os grãos sobre o terreno.
Mas, graças a Deus, e especialmente às minhas preces, elas foram tomando outros rumos, longe de casa, claro. Ora pra panela, ora pro terreno que algum vizinho criador das aves. Os porcos seguiram o mesmo destino. Abatidos com um machado sobre a testa, depois de passar pela água fervente, maçarico e outros instrumentos que não valem a pena descrever aqui, eles iam parar no cozido feito pelas prendadas donas-de-casa.
Meu tio mais novo por parte de mãe criou durante vários meses uma dezena de suínos. Depois de um ano, os pequeninos porcos se tornaram leitões graúdos. A vara foi vendida para outro criador, e ao meu tio lhe rendeu, juntamente com outras economias, seu primeiro carro, ano 83. Enquanto os leitões foram vendidos, quem não tinha preço era Perigo.
O cachorro desse mesmo tio honrava o nome que tinha. Nunca o vi distante daquela corrente que prendia seu pêlo preto e branco. Mas acho que quem jamais o esqueceu foram os transeuntes abocanhados pelo bicho de estimação da família Fernandes.
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Resultado - 165ª semana
Tente por Elaina em "Um motivo"
Eu sei lá sabe, mas dá uma dor de barriga olhar pra ele, sorrindo desse jeito,vendo as nuvens se aproximarem. E os pés no asfalto, a cara amassada, as mãos suadas. Eu sei lá sabe, mas me dói ver ele aqui, do meu lado e não poder tocá-lo. E não tocá-lo da forma que eu queria. E essa dor que não passa. E tudo que fica.
- Eu gosto de como as nuvens ficam quando está próximo de uma tempestade.
- Eu gosto de você.
...
Eu fui, falei e pronto. Saiu. E a chuva veio. E a rua inundou meu peito. Ele tá martelando sabe. Ele tá batendo feito um condenado.
- Eu-eu vou pra casa. - Ele tem boas pernas pra corrida, sempre teve. A chuva parece deixá-lo passar. Mas eu, eu fico ali, banhando-me, doendo-me.
- Você não vem? - ele grita longe, o som das gotas tampando minha visão, minha audição. Como eu escutei aquilo mesmo? - Você não vem? - ele sussurra, no meu ouvido, minha barriga dói daquela maneira e os olhos dele parecem me queimar. Que inferno. Que seja.
- O que foi? - eu pergunto, esperando, encarando. Ele sorri aproximando-se.
- Eu gosto de você também. - E tudo para.
Tudo.
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1 de dezembro de 2011
Tema - 166ª semana
A sugestão desta semana é: "Descrição"
Nesta semana sugerimos que seus posts sigam o formato de descrição. Descreva alguém ou alguma coisa legal e mande pra gente! Os melhores textos serão publicados na íntegra ao longo da semana no Bk.
Lembrem-se: os temas do Blorkutando não são mais obrigatórios. A única coisa que vamos sugerir é o formato do texto!
Escreva e poste o link aqui nesse tópico ou no perfil do facebook até 6ª feira (02/12) e o resultado sai no blog do Blorkutando sábado (03/12).
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Resultado - 165ª semana
Mais um texto participante da semana passada:
Transformações por Nina Linhares em "Caixinha de Sentimentos"
O tempo lá fora cai em gotas. No Chão formam-se poças que refletem as flores coloridas do jardim. E mesmo no cinza do dia, elas sorriem agradecendo a chuva, exalando cheiros que invadem a alma.
Um pássaro descansa logo ali num Ipê florido, sacode as asas coçando – as com o bico.
E eu daqui da varanda observo o movimento da vida, sem querer perder nenhum instante sequer. Como se meus olhos fossem uma máquina fotográfica poderosa, e na verdade são. Desfio os momentos distraidamente como se fossem uma fita de presente. Fio a fio vou desmanchando – a, deixando com que caiam aos meus pés.
Como a fita desfiada, os momentos também não voltam a ser como antes, eles passam num piscar de olhos, mudam e desmancham – se rápidos, sorrateiros... Mas os fios que estão no chão, posso transformá-los num novo enfeite, assim como posso transformar os momentos que passaram em doces lembranças.
O que vejo agora, nunca será como ao que vi instantes atrás.
A vida transforma-se, assim como as gotas da chuva, que ao caírem nas poças, mudam os reflexos das flores e o pássaro levanta vôo em busca de outros galhos. Os meus olhos não congelam as imagens, não param o tempo – Ainda bem!
Tudo muda num breve olhar.
A fita nunca será a mesma, mas ao transformá-la estarei abrindo novas possibilidades. Criando expectativas e poderei usá-la para enfeitar meu próximo instante.
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